O humor na publicidade brasileira é o mais corriqueiro
Entre as mais variadas estratégias usadas pelos profissionais da publicidade para a construção de suas campanhas, como é bem sabido, está o humor. Tanto que pode ser até considerado um dos pilares da publicidade em nosso país. Até porque, se puxarmos pela memória, com certeza lembraremos, dentre as campanhas mais icônicas, algumas com tom de piada, mas sem a perda daquele tom de “ideia brilhante”.
Pois bem, se por uma lado o brasileiro está disposto a rir das situações e até mesmo de si próprio, por outro, à medida em que o tempo passa, ele vai tornando-se mais e mais exigente. É necessário então, por parte do publicitário, o feeling do que cabe ainda e do que já não tem mais graça, do que é “piada velha”.
Essa evolução, em tempos do politicamente correto, requer um maior cuidado com a piada que é feita e com a forma que ela será interpretada, além dessa questão de não ser enjoativo. Por isso, vale a pena ouvir a opinião de criativos e profissionais desse mercado.
Dicas de profissionais da área para continuar sendo engraçado
O diretor de criação da Fischer, André Pedroso, expôs a opinião de que fazer piadas com minorias, como os homossexuais, sempre foi ofensivo, até mesmo nos anos 1980, quando era mais comum e não se tinha o que hoje chamam de “politicamente correto”. Portanto, ele concluiu que se houve erros nesse sentido, nas décadas passadas, em propagandas humor, isso se deu por conta de profissionais irresponsáveis, já que um responsável não erraria, nesse sentido, em época alguma.
Já Dedé Eyer, que é diretor nacional de criação da NBS, lembra a todos que “o mundo mudou”, assim levando à situação em que certas piadas não têm mais a mesma graça de antes. Ele ainda afirma que não vale mais o argumento de que aquilo “é apenas uma piada”, pois se não fez rir, é porque não serviu e pronto. Lembra também que, com a democratização do humor, oferecida pela internet, houve maior diversificação de tipos de humor, mas que piadas que inferiorizam pessoas não têm mais graça alguma.
Uma dica muito importante, para a aproximação da marca com o público, veio de João Livi, o CEO da Talent Marcel. Segundo ele, ao fazer graça na propaganda, essa marca acaba por se colocar num patamar de igualdade com os consumidores atingidos pela peça publicitária. Assim, serve o humor para “quebrar o gelo” inicial entre produtor e consumidor, entre vendedor e comprador. Ele também questionou o porquê de ainda se insistir tanto em piadas repetidas, como as cunhado, vizinho e sogra. Segundo afirma, já houve uma saturação disso, por parte do público.
Por fim, Rafael Urenha, que é CCO da DPZ&T, condena como “sem graça” o que chamou de “velhos gatilhos”, querendo dizer o ato, por parte dos publicitários, de explorar imagens estereotipadas, como a que se faz das mulheres. Segundo ele, o mercado publicitário tem de estar sempre atualizado quanto ao comportamento das pessoas no momento, como agem, como se divertem, e, principalmente, como pensam. Assim, resume o humor numa fórmula de ser, simplesmente, “fazer uma crônica desses costumes”. Reforçando ainda a necessidade de se ter uma autenticidade na forma de fazer esse humor, para que dê certo com o público.